Caminhando para o avanço ou retrocesso?

Henrique Dal Bello
6 min readJan 2, 2023

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Sou desenvolvedor de software desde os 19 anos e o que me motivou na carreira foi a quantidade de jogos que pude jogar, pra mim, meu desejo era criar jogos para as pessoas poderem ser tão felizes quanto eu fui ao jogar. Muito fã de JRPG, pra mim sempre foi sensacional poder “jogar um livro”, pois era isso que, na minha concepção representava.

Infelizmente o mercado de games no Brasil não é tão grande, portanto, acabei caindo pra outros mercados, desenvolvendo sistemas gerenciais, etc. No entanto, algo sempre me manteve vivo com relação o desenvolvimento: “o avanço tecnológico da sociedade como um todo”.
Sempre foi gratificante conseguir economizar tempo das coisas, otimizar rotinas e a vida das pessoas como um todo e também otimizar os processos das empresas.

Após notar essas coisas comecei a refletir sobre algumas indústrias:

Indústria gamer

Após ver o boom dos e-sports e refletir sobre todo o cenário, algo me despertou sobre o momento em que estamos. Relembrando os momentos que tive quando criança, me deparo com uma sociedade onde é cada vez mais escasso ver jogos “fora da caixa” ou disruptivos. Alguns poucos saem durante o ano.
Algo que era normal achar dezenas de jogos sensacionais (e ainda continuo quando tento relembrar alguns de Playstation 1/2 ou Nintendo).

Adicionalmente, o mundo dos games é inteiramente monetizado hoje, a geração que veio após a minha possui o desejo de serem grandes jogadores de CS, DotA, Valorant, LoL, etc. Assim como desejavam ser jogadores de futebol na minha adolescência.
No entanto, o mundo das empresas de game correram pro mesmo lado, com suas DLCs para ganhar mais dinheiro, preços de jogos absurdos para jogos repetidos. No máximo vão te entregar um gráfico mais bonito ainda e mais real do que a sua própria vida. Aparentemente a evolução dos gráficos é suficiente para ganhar o titulo de “bom”.

Ah, e quanto mais rápido for para jogar, melhor. Até mesmo os JRPGs entraram nessa, lembro de gastar 120 horas em um jogo, hoje em dia, mais de 30 ou 40 é insano para as pessoas.

O mundo se tornou tão rápido que sequer queremos parar pra ler uma conversa de um jogo ou as regras do jogo, se não for intuitivo o suficiente então o jogo é ruim. Não é a toa que há estudos dizendo que a sociedade está se tornando menos inteligente.

Claro, reitero que ainda há alguns que superam essa barreira, mas a maioria não consegue fugir muito disto.

Boa parte é só um novo jogo copiado de algum outro para ter concorrência que foi feito em menor tempo possível para dar o máximo de lucro possível.

Sem esquecer que o online é cada vez mais necessário, o que não é um problema, no entanto, jogos que costumam ter mais tempo de vida são os que de alguma forma trazem competitividade.
Transformando a gente em malucos que só querem rankear gastando horas treinando após o trabalho para ser humilhado por um adolescente de 15 anos que possivelmente deve virar profissional ou tentar.

Indústria automobilística

Como um entusiasta, gosto dos carros que tiveram grandes nomes, R32, Supra, RX-7, e vindo para o Brasil, Gol quadrado, Golf, Accord, Civic VTI, entre tantos outros. (Sim, a febre do Velozes e furiosos com certeza contribuiu para tudo isso)

No entanto, a industria automobilística hoje se tornou igual a de games, temos carros com preços exorbitantes, que entregam o mesmo do ano passado, com designs uns iguais aos outros (vamos lá, você hoje mal sabe qual é o SUV que está na sua frente na rodovia apenas pelo design), mas com uma proposta de “tecnológico”, talvez porque seja confortável e tenha um mísero Android Auto, uau!

Temos a extinção dos câmbios manuais e a vinda dos automáticos e agora, veículos elétricos e vindo junto com elas a unificação das propostas dos carros.

Antigamente tínhamos diversas propostas, carros pra família, carros pra locais acidentados, coupês, com mais ou menos potência, super carros e assim por diante.
A maioria com designs diferenciados e estilos diferentes entre as marcas e toda uma identidade de cada nação.

Hoje, a maioria deles foram todos unificado para um único: Conforto e tecnologia.

Cultura de carro? Se não derem dinheiro, tanto faz, vamos acabar com elas e é isso. Não vale a pena um produto nichado.

Percebo que o mundo parou de se importar com o avanço da sociedade como um todo ou com a qualidade de vida dos seres humanos, salvo alguns poucos que ainda se preocupam com isso, dentre eles os cientistas.
A verdade é que o que tem sido importante para todos é basicamente o dinheiro, caso contrário não vale a pena. E eu e você temos essa mesma visão.

Concorrência e não de cooperação e colaboração

Qualidade de um produto?
Desde que o preço seja lucrativo para a empresa que desenvolve e atenda as minimas expectativas daquele que compra, tudo certo.

Produto inovador?
Desde que traga uma renda que possa valer o nosso investimento na sua ideia, e caso não consiga provar que teremos um retorno, bom isso não nos interessa. Só é “inovador” se der dinheiro.

O produto vai ser somente de um nicho muito pequeno?
Talvez não vai valer a pena gastar tempo e dinheiro com isso.

O produto vai contribuir para a sociedade?
Se contribuir e der dinheiro, MUITO BOM, VOCÊ É UM GÊNIO! Caso contrário, esquece, não precisamos disso agora.

Deveríamos de fato abandonar uma ideia simplesmente pelo fato de não ser suficientemente rentável?
Muitas vezes um produto é rentável, mas não tanto quanto a empresa gostaria que fosse e isso faz ela abandonar aquele produto.

Afinal, se a concorrente está faturando mais, nós estamos ficando para trás!

Não é a toa que temos uma crescente gigantesca no ramo de marketing digital e tantos outros cargos relacionado a vendas. Isso sem contar os nossos falsos gurus que levam uma grana violenta em cima de gente inocente.

Conclusão

Para finalizar, Einstein trouxe muitas ideias, que apenas hoje têm gerado grandes descobertas e outras que anos depois de sua morte foram gerar descobertas científicas. É surreal imaginar que um cara de 1900 ainda gera contribuições, não? Mas pra isso a ideia teve que ser propagada, sair do papel, ter oportunidade e principalmente executada.

Ademais, é insano pensar que meu avô/bisavô há 60–70 anos atrás ainda tinha que tirar água do poço e hoje eu posso ter um robô que limpa minha casa. Tudo isso porque tivemos pais e avós que quiseram melhorar as nossas vidas, água encanada, carros que quebram com muito menos frequência que antes, celulares, internet, home office, quantas coisas contribuindo para nosso conforto e otimizando nosso tempo.
Para no fim, apenas jogarmos fora o tempo que ganhamos dia-a-dia.

Vejo nossa sociedade presa em um status quo, em um buraco onde o avanço é determinado pelo dinheiro.
Talvez isso se deva ao fato da facilidade que temos hoje. Não temos dificuldades como nossos antepassados, então, tudo está lindo e maravilhoso. E como o dinheiro é infinito, ou seja, não importa o quanto você tenha, sempre há um espacinho a mais no seu coração para querer buscar mais (Jogou na mega esse fim de ano né? kkk), colocamos todo nosso esforço em simplesmente fazer mais e mais dinheiro.

O dinheiro e o capitalismo em si não é o problema, desde que a economia navegue para um caminho saudável, o problema é:

Quantos dólares vale o avanço da sociedade culturalmente e tecnologicamente falando?

Tudo há um preço, com isso nos tornamos cada vez mais desinteressados em estudar, interagir, melhorar, ajudar, progredir, beirando a sermos fúteis, insensatos, cegos, retrógrados e por fim MIMADOS.

Não passamos de um bando de mimados e reclamões prontos para causar um retrocesso e deixar uma herança fútil para nossos filhos e consequentemente para nossa sociedade.

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Henrique Dal Bello

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